Confrontos não provam que você é melhor, te igualam ao outro.
Seja diferente!
Antigamente quando uma pessoa mentia para mim, eu me sentia tão irritada e até mesmo ofendida a ponto de confrontar a pessoa e desmascarar onde e quando fosse.
Parecia que a mentira, mesmo que nada tivesse a ver comigo, era uma afronta a minha inteligência, a minha capacidade de discernimento e eu, ariana legítima, não poderia deixar passar.
Os anos foram passando e passando... Mudei de cidade e me vi cercada de pessoas maravilhosas, mas também cercada de pessoas que mentem, por qualquer coisa. Pessoas viciadas em mentir. E o que fazer? No começo eu brigava com todas elas. Esfregava a verdade na cara delas e do mundo. Partia para o confronto mesmo.
Os anos foram passando e me dediquei a estudar a mim mesma, como já contei em outros artigos. Meditação, yoga, terapia, leitura... Tudo o que pudesse me mostrar o que tinha dentro de mim, me mostrar a Kássia de verdade. E descobri que o meu incômodo com a mentira veio de muito, muito longe, na infância.
Nunca acreditei em Papai Noel, coelho da Páscoa, “velho do saco”, monstros... (Não sou contra quem acredita, não me entendam mal) Sabia, desde muito nova, que a minha mãe dava um duro danado para nos sustentar e que, em muitas dessas datas, não poderia viver as ceias dos filmes, ganhar as bonecas da moda (não que eu fosse muito fã de bonecas), ganhar os ovos de Páscoa das marcas famosas. Fui criada de forma muito realista. As mentiras que eu ouvia eram para amenizar os problemas ou não criar um. E quando descobri, já era adolescente. Aí, já sabe, não é? Revolta.
Fui pra o mundo muito cedo, sem experiência quase nenhuma. Mas não tinha medo de nada. O que, muitas vezes, pode representar um grande perigo. Lembro que no meu primeiro emprego, em um jornal da minha cidade, eu queria pegar briga com um juiz que mentiu em uma entrevista dada a mim, foi desmentido por mim e mandou uma carta resposta me chamando de “jornalistazinha”. Hoje, acho cômico, mas na época, a vontade de ir nas fuças dele (eu tinha 18 anos) era imensa. Mas lembro que meu superior, na época, me disse: “isso vai acontecer muitas vezes. A vida é assim”.
Como jornalista, trabalhei com esporte, área policial (pela qual eu era apaixonada, já que sou filha de dois) artes, política... E vi que tinha uma coisa em comum em todas elas: a mentira! O humorista que me tratava super mal nos bastidores, mas, quando ligava o gravador, se tornava a pessoa mais carismática do mundo. O político que abraçava uma pessoa humilde, tomava o café e depois fazia piada da situação; os jogos visivelmente vendidos; o policial que tinha parceria com o advogado do bandido e com o juiz e, quando o preso chegava a delegacia, depois de meses de investigação, já havia um habeas corpus prontinho e o advogado lá rindo do trabalho dos policiais honestos...
Na vida pessoal, vi pessoas mentindo, descaradamente, para ganhar atenção, status dinheiro... Pessoas mentindo para manter relacionamentos ou terminar. Vi currículos que pareciam piada de tão evidentes que eram as mentiras. Vi pessoas chorarem na frente de outras jurando não terem feito uma coisa que fizeram na minha frente. E o que fazer? Brigar com o mundo? Confrontar todos eles? Virar uma justiceira?
Confesso que passei por esta fase, como disse anteriormente. Mas ninguém, sim NINGUÉM pode consertar o mundo inteiro. Porém, tem uma coisa que você pode fazer pelo mundo: mudar a você mesmo. Seja honesto com você mesmo, em primeiro lugar. Não minta e ponto final. Se eduque e saiba respeitar o modo de vida escolhido pelos outros. Eduque seus filhos a serem honestos como você é. Se uma pessoa mente, ela tem um motivo. Antes de prejudicar você, ela está prejudicando a si própria. Porque a mentira vicia. E depois da primeira vem a segunda para sustentar a primeira, e a terceira para sustentar a segunda... E chega a um ponto que a pessoa não consegue mais parar.
Quantas pessoas se casaram com outras que não amavam para agradar aos pais ou a sociedade e foi infeliz por anos e anos? Quantas pessoas reprimiram sua sexualidade por anos e se tornaram amargas e preconceituosas por não aceitarem a si próprias? Quantas pessoas entraram em forte depressão, tiveram um infarto ou um AVC por estar tão sufocado por mentiras que não conseguiam sustentar?
O que vou dizer à seguir pode soar como egoísta, mas depois vocês vão entender o porquê: cuide do seu karma, seja bom, honesto e não minta. Pense em você. Ninguém pode sustentar uma mentira por muito tempo. Pode demorar dias, meses, anos... Mas ela sempre vem à tona. Não adianta. Brigando, confrontando, expondo a pessoa (que já está fazendo isso sozinha), você se desgasta, se estressa, se deprime, se expõe, adoece e pode até morrer. É isso que você quer?
Sei que às vezes é difícil saber que uma pessoa falou uma mentira a seu respeito. Pode magoar muito. Mas, se você age de maneira correta, a mentira não vai se sustentar e o autor vai se autodestruir. É a Lei do Retorno. Ninguém consegue fugir dela.
De que adianta vestir as melhores roupas, comprar os melhores sapatos, ir às melhores festas e estar devendo ao banco ou aos vendedores? De que adianta mentir que sabe fazer um trabalho, ser contratado e na hora de fazer não conseguir? De que adianta mentir para seus filhos e dormir com a consciência pesada? De que adianta ser infeliz com uma pessoa que não ama para não perder o status de casado ou financeiro? De que adianta reprimir sua sexualidade, chegar aos 60, 70 anos e dizer “quanta coisa eu perdi. Quanto fui infeliz”? De que adianta ter que mudar de salão ou de loja a cada mês porque não pode pagar, mas quer estar sempre alinhada? Uma hora a “casa cai”. Não tem escapatória.
Então, ao invés de bater de frente, deixe a pessoa falar. Cuide de você. É desta forma que mudamos o mundo. Cada um cuidando de si, e quando se sentir pronto, espalhar este amor para mais e mais pessoas (porque quando descobrimos nosso verdadeiro “eu” nos tornamos mais amor). Pequenas ações ajudam. Eu escrevo, conto minhas experiências e mostro às pessoas que elas não estão sozinhas e que sim, há possibilidade de mudar de fogo para um rio calmo. Ainda não alcancei o nível de maturidade emocional e espiritual que busco. Mas não vou desistir. E é isso que me motiva a cada dia.
Tenho plena consciência de quem sou, e de que não posso mudar as pessoas. A mudança é um trabalho longo, contínuo e individual no qual estou trabalhando dia após dia. E os resultados vêm. Quando uma pessoa insiste em mentir para mim me afasto e além de agradecer em minhas orações por ter resolvido a situação, peço pela pessoa. Uma hora ela vai reconhecer o mal que fez ao outro e a si próprio, principalmente, e vai mudar de postura. Pode durar até mais de uma encarnação. Mas vai acontecer. Tenha certeza!
Então cuide de você, melhore a você, vença a você. E o Universo te recompensará. Não digo que é difícil (aprendi com uma pessoa muito especial). Digo que é diferente. E tudo que é diferente assusta mesmo. Mas, digo por experiência própria: vale à pena. Confrontos não provam que você é melhor ou pior que o outro. Mas te igualam a ela. Seja diferente.
Namastê