Bruna Stamato

Nos conhecemos em 2016 e nunca mais perdemos contato.

Nossas histórias se cruzaram quando ambas passavam por momento de transição significativo.

Desde então, nossa amizade só cresce.

Ela tem o dom das palavras, é inteligentíssima e tem uma sensibilidade incrível.

Conheça e escritora Bruna Stamato.

Kássia Luana (KL): Nos conhecemos há alguns anos, em uma fase bem diferente da atual. Afinidade a primeira vista! Conheço sua história. Conta um pouco para nossas leitoras sobre a história da Bruna.

Bruna Stamato (BS): Bom Lu, nos conhecemos na época em que eu tinha acabado de sair do meu casulo, o qual eu habitei por mais ou menos 1 ano, depois que me separei do meu ex marido. Eu sempre fui muito apaixonada pelo amor, muito entusiasta! Me casei aos 20 anos, no auge da paixão. Fui mãe pela primeira vez aos 21 anos e pela segunda, aos 24. E ficamos casados por quase 10 anos. Hoje, olhando para trás, eu sinto que meu casamento deu certo o que ele tinha que dar. Rendeu 2 frutos lindos, teve muito amor, mas assim como todos os ciclos da vida, chegou ao fim. Sofri muito na época, pois terminar um casamento é enterrar todos aqueles sonhos lindos que tanto idealizamos e como eu sempre gostei muito de escrever, pensei "Vou contar a minha história, quem sabe não ajuda uma outra mulher que está passando por isso?” e foi daí que nasceu o meu primeiro livro "Nunca quis um marido sempre quis um companheiro". :)

(KL): Interessante que, ambas tiveram o mesmo insight, em períodos diferentes: usar nossa história para ajudar o máximo de pessoas possível. Muito ligado a propósito de vida, não é?

(Bruna): Sim!!! E um propósito muito lindo, né?! Já pensou se todo mundo no mundo ajudasse 1 pessoa? Com certeza seria um lugar melhor para viver! rsrs Eu penso que a dor é um agente modificador, mas se vai nos modificar para o bem ou para o mau, é uma escolha só nossa. Eu preferi usar a minha dor para o bem, para alguma coisa útil e acabou realmente se tornando a minha missão, meu propósito de vida.

(KL): Admiro muito sua força, coragem. Recomeçar com 2 crianças é ainda mais desafiador. Como foi este processo para você?

(Bruna): Lu, eu senti muito medo! Confesso. E também ouvi de muita gente que eu estava sendo louca, irresponsável. Porque não foi só um divórcio, foi uma mudança completa. Saí de São Paulo para vir refazer a vida aqui no litoral, então tive que trocar as crianças de escola, o convívio com a família paterna diminuiu, foi uma mudança brusca. Mas eu considero extremamente necessária. Às vezes a gente precisa se afastar, sair de cena, para que os ânimos se acalmem. Para que a gente possa recuperar o equilíbrio e a sanidade mental. Essa mudança teve seus pontos muito positivos para as meninas também, porque eram duas crianças criadas em apartamento, sem liberdade, sem espaço e aqui elas puderam conhecer o outro lado, o sol, a praia como rotina, esportes ao ar livre, então na pesagem da balança foi tudo válido. É com medo mesmo que a gente precisa fazer as coisas. Eu segui meu coração.

(KL): Voltando um pouquinho, o que você considera que seja importante pesar ao tomar a decisão de encerrar um relacionamento?

(Bruna): Lu, eu vejo assim: Uma coisa é a gente estar estressada pela rotina, pelo cansaço inevitável e absolutamente normal, bate aquela vontade de "sumir", de largar tudo, mas um divórcio é bem diferente. Envolve as famílias de ambos, os projetos, é uma vida toda né. Então, eu diria que o primeiro ponto é analisar isso, se eu só estou cansada e precisando de férias ou se as minhas diferenças com o parceiro se tornaram mesmo irreconciliáveis e eu estou sendo infeliz e quando olho para o futuro não o vejo mais ao meu lado.

(KL): Uma das coisas que pesava muito, logo no começo, foi o julgamento. Não tinha a percepção que tenho hoje, então absorvia muito. Como lidou com isso?

(Bruna): Eu fiquei muito chocada com os julgamentos no começo. Não esperava mais ouvir as coisas que ouvi e ainda mais de pessoas muito próximas a mim. Eu escutei coisas como "Tá maluca? Fica com seu marido, é ruim mas é seu. Casamento é isso mesmo" e ainda "Vai separar com duas crianças pequenas? Vai ficar encalhada, homem nenhum quer mulher com filhos". A sociedade ainda é muito machista sim e esse pensamento retrógrado e tão nocivo está incutido na cabeça de muitas mulheres. É absurdo, mas em pleno século XXI ainda existe mulher que se mantém em um relacionamento abusivo, ou se sujeita à humilhações, para manter o status de casada, como se uma mulher fosse incompleta sem um homem do lado.

(KL): Como educar duas meninas numa sociedade predominantemente machista?

(Bruna): É um desafio, pois nós também precisamos desconstruir alguns conceitos caducos, o machismo está inserido na sociedade de uma forma muito velada também. Mas eu acredito que é o nosso dever, das mães dessas novas gerações, educarmos nossas meninas para serem tudo aquilo que elas quiserem ser e nossos meninos, para respeitarem isso. Eu converso sobre tudo com elas, aqui o papo é reto. Minha mais velha está com quase 14 anos e eu digo para ela e as amigas "Olha, não se sintam intimidadas pela opinião de um menino, não mudem o que vocês gostam em vocês para agradar ninguém. Os homens não têm o menor direito sobre o corpo de uma mulher e isso independe da roupa que essa mulher está usando, de como ela está dançando" e por aí vai. É um trabalho constante e o diálogo precisa ser no português bem claro.

(KL): Você se considera uma mulher feliz?

(Bruna): Hoje, sim! Porque hoje eu não condiciono mais a minha felicidade à ninguém, não relaciono mais a felicidade com a completude absoluta da vida. Eu vim aprendendo que a felicidade é um processo e também é uma questão de escolha; que todos os dias nós podemos escolher olharmos para o que já temos com mais gratidão e amor e que isso nos liberta de ficarmos esperando a vida perfeita, para só então, começarmos a sermos felizes. Eu sou feliz, pois eu sou muito grata a tudo que conquistei e estou conquistando!

(KL): O que você diria para a Bruna de 6 anos atrás?

(Bruna): Vai valer a pena! Aguenta firme, que no fim, tudo se transforma em bagagem de vida. Ah! E comece a tomar colágeno, por favor! :)

(KL): Na sua percepção, o que é propósito? E como encontrá-lo?

(Bruna): Eu não consigo separar Propósito de Paixão. Acredito que os dois sejam companheiros absolutos e que o Propósito de vida é aquilo que nos dá alegria para levantarmos todas as manhãs, que é o que não está atrelado unicamente ao dinheiro, pelo contrário, é o que nos faz vibrar mesmo sem uma grande quantia financeira em jogo. Uma boa maneira de encontrar o propósito é ouvir o coração; a voz da intuição. Aquele chamado que às vezes a gente abafa e ignora, mas que uma hora na vida vai nos chamar na chincha. Pode ser uma aptidão, aquela paixão por fazer doces ou o talento para desenhar. Eu acredito que o coração saiba como nos levar até o nosso propósito.

(KL): Que lindo, Bruna! Quem são as pessoas que te inspiram?

(Bruna): As pessoas reais, do meu cotidiano, sem dúvida são as que mais me inspiram. Principalmente as mulheres guerreiras que eu tive o imenso prazer de conhecer ao longo da jornada, que lutam muito mas não perdem a doçura e a fé na vida. Mulheres como você, Lu! Que nos mostra que acreditar no amor é válido e que por mais difícil que tudo pareça, sempre é possível renascermos. Obrigada!!! Te agradeço muito por isso!

(KL): Você é incrível! Amo nossas conversas, nossas trocas, a sua responsabilidade com o conteúdo que compartilha, seu carinho com as pessoas. Você também é uma inspiração. Para finalizar, deixe uma mensagem para mulheres que, assim como nós fizemos anos atrás, estão recomeçando.

(Bruna): Se eu posso dizer algo para uma mulher que nesse momento está se vendo em meio a um mar turbulento e sem grandes perspectivas para o futuro é: Respira. Respira fundo, puxa o ar, preenche os pulmões. Aceite o luto. Tome consciência da dor, que ela tem motivos para existir, pois o que aceitamos, o que é nosso, nós podemos mudar, mas tudo aquilo que refutamos, que negamos, perdemos o controle. Renascimento é um processo que tem dor, tem medo, insegurança, mas também tem surpresas maravilhosas nos esperando, pois a vida costuma dizer SIM, quando dizemos SIM para ela. Vai no seu tempo, sem pressa. Mas não deixe de ir. ❤️

Kássia Luana

Kássia Luana

Escritora e empresária, atua na área de comunicação há mais de 15 anos

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